terça-feira, 22 de julho de 2014

Assédio moral: o ‘bullying adulto’ como acidente de trabalho

Está em tramitação na Câmara o Projeto de Lei nº 7.202/2010, que inclui o assédio moral como acidente de trabalho. Você já sofreu? Por Fabíola Leoni

Pode estar presente em um gesto, uma palavra, em escritos ou mesmo em comportamentos. O assédio moral não é novo e, agora, pode se tornar um acidente de trabalho – é o que defende o Projeto de Lei n.º 7.202/2010, que está em tramitação na Câmara. O governo estuda a possibilidade de atualizar a lista de doenças classificadas como acidente de trabalho, enquanto cresce o número de concessões de auxílio-doença. Ao mesmo tempo, críticos questionam a eficácia do método do diagnóstico. O que fazer diante de uma agressão verbal ou física dentro do ambiente profissional?
Luiza Junqueira, 34 anos, executiva, trabalhou por dez anos em uma empresa de comunicação do Rio de Janeiro. “Me transferiram para um novo setor e lá conheci o chefe que transformaria a minha vida num verdadeiro inferno”, conta ela, que teve seu nome trocado a pedido.
Os autores do projeto de lei apontam que há a necessidade de estender o conceito previsto na Lei 8.213/1991, que prevê que ofensa física só pode ser equiparada a acidente quando o motivo da disputa for relacionada ao trabalho. A autorização depende de aprovação na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público.
O advogado Bernard Rocha, do escritório Araújo, Cardoso, Rocha e Medina Advogados Associados, afirma ser a favor de o assédio moral estar entre os tipos de acidente de trabalho, conforme defende o projeto de lei. No entanto, ele contesta o processo de aferição. De acordo com o especialista, a estrutura previdenciária brasileira não oferece condições ao perito do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) realizar o trabalho de forma adequada, o que deveria ficar a cargo da Justiça do Trabalho. “Será que um perito do INSS saberá se um problema psicológico será causado por assédio moral e não por fatores externos?” Ele considera ainda que “o assédio moral é um bullying adulto”.
“Ele me chamava de burra, incompetente e tudo que fazia era sempre errado. E não era errado. Ele só tinha três meses de empresa e eu, dez anos. Cheguei a trabalhar 60 dias direto, sem qualquer folga. Um dia fiquei doente e levei ‘esporro’ por não ter ido trabalhar. Depois de um ano nessa situação, comecei a ter, realmente, problemas de saúde. Coração disparado, insônia, vários medos. Até o dia em que acabei saindo da empresa. Tudo porque ele queria colocar alguém do grupinho dele no meu lugar”, conta Luiza.
O caso da executiva não é único. De 2006 a 2009, a concessão de auxílio-doença acidentário saltou de 612 para 13.478 trabalhadores. A ofensa física revelou-se um dos principais motivos. Testemunhas, e-mails, documentos e circulares internas podem ser exemplos de provas de assédio moral, segundo Rocha.
“O assédio moral só existe porque a educação está cada vez pior dentro de casa. O assédio moral está intrinsecamente ligado à educação. Precisa de lei para dizer que idosos, gestantes e deficientes físicos têm preferência de assentos em transportes públicos ou repartições. Isso é inerente. Estamos chegando ao ponto de dizer que é crime tratar mal seu próximo, xingar seu companheiro. E isso seria básico”, afirma.
Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/politica/assedio-moral-o-%E2%80%98bullying-adulto%E2%80%99-como-acidente-de-trabalho/

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